Jornal A Semana

A LEVEZA DO CORPO ENTRE ÍNDIOS E ÍNDIAS MBYA-GUARANIS

  • Capinzal FM
  • 18/01/2019 09:34
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Estive me lembrando nestes dias sobre um dos aspectos da minha pesquisa de mestrado entre índios e índias Mbya-Guaranis da ilha da Cotinga em Paranaguá-PR. Principalmente sobre a importância de adquirir a leveza do corpo e a importância de manter o corpo leve por muito tempo. Não, a motivação não é para ficar esteticamente em forma, mas seguir as normas do seu “jeito de ser”.


Observei que, apesar da dificuldade de manter a forma tradicional do preparo dos alimentos, de plantá-los e cultivá-los, pois têm pouca terra para plantar na aldeia, as mães ensinam às crianças a importância dos alimentos tradicionais, o que agrada à divindade maior, conhecida como Nhanderu. E em troca, Nhanderu lhes concede a leveza do corpo, a agilidade da locomoção e bons sonhos.


Um exemplo de alimentação tradicional muito amada é o milho guarani. É diferente dos demais, é de sua tradição. Perguntei o porquê há essa diferença e responderam ser um milho doce, que, na receita de bolo, por exemplo, não é preciso adicionar açúcar, como acontece com outros tipos de bolo de milho, e assim mesmo fica doce e gostoso.


Aprendi com as índias a fazer o bolo de milho guarani. No primeiro ano em que fazia a pesquisa, havia bem poucas sementes do milho na aldeia. Foi necessário conseguir mais sementes, plantar e esperar a colheita para colocar em prática a aprendizagem, ou seja, moer o milho e preparar a farinha com o ponto certo de água, e só isso. Depois, acender o fogo, deixar a lenha se tornar brasa, e então fazer os bolos, tipo bolachões, e cozinhá-los ali nas brasas.


Interessante que, mesmo com tanta simplicidade, os momentos de reunião entre as índias no preparo de algum alimento são muito mais que fazer uma receita, são as conversas, as trocas de experiências e o reviver das tradições dos antepassados, principalmente de suas mães, avós, bisavós, etc. Elas são alegres, eu também. A gente riu muito enquanto o cheirinho do bolo temperava nossas trocas de experiências.


O bolo de milho fica muito bom, é doce, com casquinha crocante, e por dentro um cheirinho muito bom na massa, que fica leve e gostosa. Mas eu amei mesmo foi estar com elas naquele momento em que reviviam algo importante para sua comunidade.

Os sonhos

E entre uma coisa e outra, perguntei o porquê aquele bolo deixa leve seus corpos e por que tal leveza lhe faz tanto bem.A resposta é que a leveza do corpo faz ter bons sonhos e, além disso, proporciona o entendimento do que sonham.


Ora, entre os membros de seu povo, é comum que muitos deles entendam os significados e ocorre também que os sonhos de uns completam os de outros. Para eles, sonhar é receber mensagens das divindades, são orientações de como devem agir no dia a dia e indica se alguém está doente e como se deve agir.


Caso alguns não entendam os significados dos sonhos, buscam o auxílio do Pajé, que é o responsável pela vida espiritual da comunidade, podendo tanto ser homem quanto mulher.

Esse tema é lindo. Leveza do corpo, sonhar e entender os sonhos, como não admirar esse seu jeito de ser?


Se você conhece o estudo de um povo que tenha alguma particularidade nesses três pontos, me escreva. Vamos conhecer mais um pouco da Diversidade Cultural.


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