Jornal A Semana

BENZEDEIRAS: O CHAMADO E A FÉ

  • Douglas Varela
  • 21/06/2019 15:17
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Este é o terceiro artigo sobre benzedeiras da região de Ouro (SC), publicado neste ano. Elas recebem a missão de alguém e agem em nome de alguém. O foco de hoje, portanto, é o chamado, o desempenho da missão e a fé.

Quanto entrevistei as benzedeiras Rezuntina Armelinda Brol, Roseli Maria Bonamigo, e I.F. (que pediu para não divulgar o nome por estar em recuperação de saúde no momento), observei que elas entenderam esse trabalho voluntário como forma de missão.

O que dizem do chamado recebido?

Roseli Maria Bonamigo relata que o “recebeu da avó, que ela distribuiu para os outros o que aprendeu”. E completou: “Então na hora da oração ligo-me com Deus e com a avó”.

Rezuntina Armelinda Brol diz que recebeu o ensinamento do sogro, quando tinha 30 anos. Ele disse: “Vou te ensinar a benzer”. Eu benzia e a pessoa sarava. Ele disse: “Você tem mão boa”.

I.F. conta:
“Aos 14 anos de idade, ao encontrar-se com um frei, ele perguntou para minha tia: - quem é esta menina?
- É minha sobrinha – ela respondeu.
- Tu sabes que esta menina tem um dom?
E a tia me disse:
- Vai lá que o Frei quer falar com você.
- E eu fui, mas tinha muita vergonha, a gente morava no interior.
E ele disse:
- Você tem um dom e tem que experimentar pegar para você fazer.
Aí decorei tudo, como ele me disse, bem direitinho, só que eu vim para casa e falei para minha família:
- Olhem, vocês não vão dizer para ninguém, porque eu não vou ficar benzendo. Mas, assim mesmo, quando acontecia alguma coisa entre os parentes e de casa, eu benzia, e fui levando, até depois de casada.
Até que um dia aconteceu um caso aqui no nosso lugar, o de uma menina. Ela tinha uma espécie de susto, não conseguia respirar direito. Ela vinha ensaiar conosco nas reuniões. Com pena de vê-la assim, eu disse para a mãe dela que poderia benzer. E ela ficou boa”.

Explica Roseli Maria Bonamigo: “o que vale é a fé”. Diz ter gratidão pela avó, que lhe passou os procedimentos para as benzeções.

Rezuntina Armelinda Brol enfatiza que alimenta o chamado com a oração: “Rezo todos os dias para São Paulo. Faço orações rápidas, três vezes ao dia, por três dias, para alguns casos. Para outros, rezo a São Caetano, São Lucas e Mateus”.

I.F conta: “Rezo bastante fora do horário do benzimento. Também peço para que as pessoas rezem”.

Aquelas que foram benzidas e sararam reconhecem o bem divino recebido mediante o trabalho voluntário das benzedeiras.

Roseli Maria Bonamigo refere que fazem questão de lhes retornar presentes, tanto em alimentos quanto para a casa, dizendo para ela: “Sarei porque me benzeu”.

Diz Rezuntina Armelina Brol: “Com os agradecimentos delas, a gente se sente bem, e eu gostaria que elas dissessem que melhoraram”.

I.F. lembra que as pessoas que benzem o fazem voluntariamente. É só uma oração pela outra pessoa. Não fazem em troca de bens materiais nem por dinheiro. Quando as pessoas insistem em trazer uma lembrança de agradecimento por se sentirem melhor, a gente aceita por entender que é o coração delas que desejam fazer isso.

Gostou? O tema é riquíssimo. Voltarei mais adiante.


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