O CHEIRO DO DINHEIRO
- Douglas Varela
- 28/11/2019 09:41
Se passar próximo de chiqueirões de porcos em algumas localidades, sentirá um cheiro característico e ouvirá este comentário: “É o cheiro do dinheiro”. Proprietários contam, inclusive, que a associação cheiro-dinheiro estimula a superação das dificuldades cotidianas.
O cheiro do dinheiro é também o título 10 do livro Best Seller Internacional Uma breve história da humanidade: Sapiens, por Yuval Noah Harari, doutor em história pela Universidade de Oxford e professor da Universidade Hebraica de Jerusalém.
Felipe e Arlindo, neto e avô, sentados no banco da praça principal da cidade, discutiam partes do livro desse autor. Dizia alto Arlindo:
─ Não que já existiu dinheiro de cevada? Então se podia comer dinheiro, ah, ah! Li que, entre 9.000 a.C. e 6.000 a.C., bois, vacas, camelos e ovelhas eram tidos como moedas.
Ao perceberem a conversa mais que animada, transeuntes foram parando por lá e perguntaram: ─ “Eles comiam dinheiro?”.
─ Isso aconteceu em 3.000 a.C. ─ observou Felipe. Harari diz que tinha o valor próprio do lugar, do contexto. Mas não era o dinheiro que eles comiam, mas a cevada...
─ Felipe, escutei ontem num programa de TV esta pergunta: Qual foi a moeda de prata, de 8,33g, que apareceu em meados do terceiro milênio a.C.?: moeda lídia, siclo de prata ou moeda de prata denário? Ah, ah, é agora que eu quero ver...
Acontece que os diversos estudantes do grupo buscaram, rapidamente, a resposta na Internet. Arlindo não gostou, ficou com cara de bravo e disse-lhes: ─ “Parem tudo!” ─ E os celulares foram guardados.
— Tenho que concordar que sua memória é extraordinária, meu avô. Sem ajuda da plateia, verá que acertarei. Por eliminatória, não pode ser a moeda denário porque era a forma de pagamento do imperador romano. Não pode ser a moeda criada por Aliates, rei da Lídia, porque era de 640 a.C., e tinha marca de identificação e peso padronizado, então tem que ser o dinheiro siclo de prata, porque pesava 8,33 gramas.
─ Muito bem, você é inteligente como seu bisavô – que Deus o tenha – para não dizer seu avô que está aqui em carne e osso.
A plateia aplaudiu. Felipe bateu no peito, com satisfação e rebateu:
─ E o senhor ouviu falar daquelas conchas de cauri? Incrível que elas foram utilizadas como dinheiro por quatro mil anos em toda África, sul e leste da Ásia e Oceania. No século XX os impostos na Uganda britânica podiam ser pagos com as conchas.
─ Claro que sim. Nisto sou Sapiens, que significa sábio.
O celular tocou, seria alguém querendo tirar Arlindo de uma enrascada preparada por Felipe? Ele fez uma pausa na conversa e perguntou ao neto:
─ E porque o dinheiro é uma “revolução mental” – como diz Harari? Não se limita a moedas e cédulas, mas age numa rede de relações? – E continuou sua conversa ao celular.
A plateia insistiu: Por que, Felipe? Responde, responde!
─ Por quê? Simples. Dinheiro não discrimina idade nem gênero, nem orientação sexual. Tem cheiro bom.
─ Sapiens! ─ Respondeu Arlindo.