Jornal A Semana

OS FONES DE OUVIDO

  • Douglas Varela
  • 05/07/2019 17:16
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Estava realizando estes dias um passeio com minha turma e alguns alunos da escola, quando em um desvio de órbita pude analisar uma quantia significativa de pessoas adjuntas em um transporte agarradas aos seus fones de ouvido, com um olhar sombrio e distante, deixando a música retumbar internamente um milhão de emoções as quais faziam questão de engolia-las silenciosamente.

E debrucei-me sobre esse simples fato com um pouco mais de atenção e pude chegar à conclusão de que estamos cada vez mais caminhando a passos largos para um isolamento em nossos próprios corpos frios.

Obviamente, ouvir músicas é algo ótimo, Nietzsche, um filósofo alemão afirma, que a vida sem a música seria e um erro e concordo plenamente, porém quando é preferível trancar-se em uma redoma paralela ao socializar-se com o ser que está ao lado durante aproximadamente duas horas, creio que exista algo de equivocado.

Em minha opinião, quando soltamos uma playlist e trancafiamos nossos ouvidos em ondas sonoras estamos ignorando de certa forma, a realidade que nos cerca. Tampando um de nossos sentidos e dignificando um alerta de “não me perturbe”.

E sim, é extremamente normal em uma fase conturbada querermos solidão, mas ao distanciar-se das outras pessoas que estão passando provavelmente pelos mesmos problemas que nós, talvez nos tornamos egoístas, acabamos achando que apenas nós mesmos enfrentamos momentos difíceis, ficamos remoendo internamente fatos que muitas vezes, apenas sendo apresentados por um ponto de vista diferente, tudo se resolveria.

Aqui mora a importância do diálogo, a serventia de mesclarmos conhecimentos, evoluirmos juntos, não fomos feitos para ficarmos sozinhos. Às vezes, tudo que alguém precisa é de outro alguém que o ouça sem julgar. Talvez uma simples frase poderá mudar totalmente uma visão que temos sobre determinado fato. Não há nada mais reconfortante do que ouvir: “eu também passei por isso, tenha calma, eu procedi de determinada maneira, levante a cabeça, vai dar tudo certo”.

É importante nos permitirmos essa conexão do olho no olho, que ultrapassa apenas telas e números, mas que acalenta preocupações e aquece corações.

O mundo evolui e as coisas mudam, mas não pode ser normal que adolescentes em uma fase tão sublime fechem-se dentro de si mesmos.


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