Jornal A Semana

BEM-VINDOS AO CAOS

  • Douglas Varela
  • 29/03/2021 08:59
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Medo. Angústia. Sofrimento... Por trás de cada máscara, um rosto calado, desanimado, esquecido. Viramos silhuetas ao acaso, daquelas que passeiam pelas ruas sem serem notadas, ao passo que, tão parecidos que estamos, deixamos de chamar a atenção por onde andamos. Afinal de contas, muito mais uniforme do que o uso de máscaras, vem sendo a tristeza carregada por todos nesses dias, a tristeza de quem teme o amanhã por não saber quantas mortes ele trará. Quantas mortes e de quem; será do vizinho? Parente? Amigo? Estamos todos no mesmo barco, sujeitos aos males e dores que o vírus tão cruel trás consigo, sem distinguir cor ou etnia, grupo social ou grau de escolaridade, branco ou negro, mulher ou homem, jovem ou idoso em sua fúria destruidora. Ao contrário: acolhe a todos com as boas-vindas mais calorosas que o caos propriamente dito poderia estender.

Somos todos vítimas, independente de quem contraiu ou não coronavírus. Quanto mais me integro do assunto, mais percebo que nada sei: as informações sobre o desenrolar da pandemia surgem e estouram em nossos ouvidos a todo momento; novos tratamentos subjugam os anteriores e vem à tona para tornarem-se a real esperança de quem está no leito de morte, mas sem nada concreto, ainda, que nos aponte uma saída. Curioso pensar que a Medicina como ciência, historicamente tão estruturada e madura, foi colocada em xeque durante esses vários meses vividos em pandemia: onde estariam os livros e relatos de experiência que poderiam auxiliar na condução dos piores casos? Onde estariam as prescrições exatas e certeiras para o combate a esse vírus? Pois é, não existem, ao passo que o presente cenário é uma novidade aos olhos de todos, inclusive da comunidade científica.

Nesse momento, somos todos aprendizes e o conhecimento vem sendo construído a cada dia. Inclusive dentro dos hospitais, onde o terror prevalece, é possível verificar um grande ganho de conhecimento obtido por meio de muito trabalho duro, mas que ainda não é suficiente... Ao mesmo tempo, dói pensar em tamanha tristeza assumida pelos médicos que, sendo eles os responsáveis pelo cuidado dos pacientes em coma, acabam com as mãos atadas dentro daquelas quatro paredes - não existem recursos efetivamente bons e quantitativamente suficientes que possibilitem o retorno da saúde a todos que padecem; pelo menos, ainda não disponíveis. Fora de lá, há um mundo de pessoas aguardando a liberação de leitos para logo serem ocupados por aqueles que urgentemente necessitam do respirador, dos antibióticos, de toda a assistência... Se há sofrimento maior do que esse dentro do contexto em que todos vivemos, eu realmente desconheço. A mazela humana chega ao ápice em uma série de infortúnios que insistem em se desenrolar um atrás do outro.

Notadamente, se a cada lágrima até hoje derramada em memória dos indivíduos infectados sobreviesse uma solução, fosse na forma de aparelhos, medicamentos ou condutas salvadoras, tudo já estaria resolvido. Mas não é assim que funciona. No lugar das lágrimas, usemos da esperança e da confiança em Deus para nos levantarmos e seguirmos em frente. A cada momento, mais e mais forças são investidas pelas equipes de saúde e administradores públicos na tentativa de refrear a contaminação e de restaurar as forças de quem foi atingido... Nessa caminhada, o aprendizado vai se concretizando e a vitória se torna mais certa a cada dia.

Esse caos um dia vai passar, demore ele o tempo que for. Vivos ou não para presenciar tal fato, certamente COVID-19 ganhará lugar como título de capítulo de muitos livros de cabeceira que os acadêmicos de medicina serão convidados a ler ao longo da sua formação, isso em um futuro próximo onde a penumbra do que passou já tenha se tornado uma lembrança na história de todos os que sobreviveram.

 


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