Zélia Maria Bonamigo
Jornalista e Antropóloga
zeliabonamigo@uol.com.br

Antes de ser jornalista, eu fui, professora de crianças de 3ª a 5ª series por alguns anos.

As crianças dessas idades, especialmente as das 3a séries, eram bastante ativas, algumas hiperativas, tanto que, para ministrar aulas, passei a adotar o método da contação de histórias, para cada matéria nova. Era uma festa para elas, tanto para quem tinha dificuldade de aprender quanto para as demais.

Além disso, divulgava nomes de livros infantis, para que lessem nos horários livres, já que o colégio tinha uma boa biblioteca e a sala de aula dispunha de boas estantes de livros coloridos.

Resultado: as crianças entraram numa fase de múltiplas leituras e curiosidade crescente, tanto que passaram a ler de tudo, desde outdoors, revistas, livros, até jornais, entre outros. Elas queriam escrever uma história sobre cada tipo de assunto, queriam se tornar escritoras.

A tal ponto que eu passei a sugerir alguns temas no final de cada aula, para que escrevessem e trouxessem o texto para a próxima aula, quando, então, algumas eram sorteadas para ler na sala de aula. Muitas escreviam sobre mais temas do que eu havia sugerido.

Eu lia todas e escrevia observações de incentivo para cada uma. E pensava: o que fariam essas crianças, com tal efervescência na compreensão da leitura e da escrita, no futuro, para registrarem outros aspectos das suas histórias pessoais, uma vez que já faziam redações tão boas nessa idade?

O tempo foi passando. Acompanhei os progressos dessas crianças no seu desenvolvimento. E sigo diversas delas nas redes sociais até hoje. Quase todas desenvolveram o potencial de escrever. Algumas delas tiveram filhos e netos atuantes na escrita, cada uma no seu estilo próprio, é claro.

Ao longo da vida conheci muitas outras crianças. Nelva é uma delas. Depois de aprender a fazer redações na escola, passou a fazer diários em casa. Com o passar do tempo, ela conseguiu anotar todas as histórias mais interessantes de seus avós, desde seu nascimento. Quando eles morreram, muitos anos depois, ela já tinha um livro quase pronto para publicar.

E você? Tenho a certeza de que na sua casa, ou perto de você, também existe uma criança escritora. Se ainda não existe, você pode dar uma força.

Pergunte se ela não escreveria, por exemplo, a história do seu animal de estimação, sobre as brincadeiras preferidas, histórias que ouviu ou leu, e até sobre costumes alimentares de sua etnia.

Aí você me responde: “Aqui em casa, nada de livros, só jogos, ler que é bom, nada”.

Você pode mudar isso. Existem crianças que se tornaram escritoras aos 10, 11, 12 anos e mais... depois de ler livros diversificados, e por terem sido estimuladas para a leitura.

Ainda dá tempo de você despertar crianças escritoras em sua casa. Mas caso não encontre um jeito, há algo que você pode fazer: Desperte em sua própria Criança interior a alegria de escrever uma biografia, quem sabe, ou algo que toque o seu coração. Vamos nessa?