Jornal A Semana

ESTUDE ANTROPOLOGIA, EM QUALQUER IDADE

  • Douglas Varela
  • 26/06/2020 09:35
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Imagem: Capa do livro citado neste artigo, sugestão de leitura para quem quer estudar antropologia. Fonte: LTC – Livros Técnicos e Científicos Editora, S. A.

Zélia Maria Bonamigo
Jornalista e Antropóloga
zeliabonamigo@uol.com.br

Quando eu escrevia para o jornal O Estado do Paraná, no decorrer do meu mestrado em Antropologia Social, jovens que se preparavam para o curso superior me questionavam sobre o sentido que a Antropologia tem para mim, por ser jornalista. Como perguntas semelhantes retornaram mediante artigos neste jornal, retorno ao tema.

Um sentido importante para mim está no fato do trabalho de minha pesquisa se inserir na Antropologia ― anthropos (ser humano) e logos (conhecimento) ― a ciência que estuda o ser humano em profundidade. Entendo que o ser humano está amarrado “a teias de significados que ele mesmo teceu [...] como uma ciência interpretativa à procura de significado” (Geertz, Clifford, A Interpretação das Culturas, LTC, 1989).

Fiz etnografia, ou seja, estabeleci relações, selecionei informantes, transcrevi textos, comparei genealogias, mantive um diário (Geertz, 1989). Na aldeia Pindoty, na ilha da Cotinga, em Paranaguá-PR, investiguei, etnograficamente, a economia da comunidade Mbya-Guarani (com significado de trocas) e suas relações com seus deuses e com a sociedade capitalista (os não-índios).

Entre tantos outros aspectos, foi algo especial descobrir o sentido dado por aquela comunidade ao calendário do milho, que tem relação com o batismo do milho. Por ocasião do batismo das crianças, realizam uma cerimônia chamada Nhemongarai. Nela é oferecido o pão de milho (mbojape) a Nhanderu, chamado Nosso Pai Original. Deuses e deusas revelam ao pajé os nomes das crianças, e com seus significdos ocorre a organização de sua vida social.

Para conhecer mais o seu jeito de ser, veja na internet, digitando meu nome e o título A Economia dos Mbya- Guaranis: trocas entre homens e entre deuses e homens na ilha da Cotinga em Paranguá-PR. Além dessa minha dissertação ter se tornado livro, consegui pessoalmente, um “a mais” na minha profissão. Como? Ora, passei a reconhecer e a valorizar mais a alteridade. Isso significa o reconhecimento de que na aldeia Pindoty o sentido supremo é aquele dado pelos seus moradores, “envolvidos nas teias de significados que eles mesmos teceram”.

Isso envolveu viajar para a ilha, ouvir os membros daquele grupo, observar seu modo de ser, perguntar novamente, escrever mais um pouco, voltar para confirmar os dados, durante meses, dedicando finais de semana, feriados e férias. E após dois anos de estudos, apresentei minha dissertação e conclui o mestrado. Foi a melhor pesquisa que eu fiz.

Hoje digo a vocês, pessoas jovens e adultas que buscam fazer um curso de graduação ou pós-graduação: estudem Antropologia, façam pesquisa de campo. Existem muitas ramificações, além da Antropologia Social, como a Antropologia Urbana, na qual as pessoas estudam a metrópole, os patrimônios públicos, etc.; a Antropologia das Religiões, que estuda o sentido das religiões, procissões, costumes de comunidades, etc.; a Antropologia Visual e da Imagem, a Antropologia das Emoções, a Antropologia Política, entre outras.

Fascinante, não é? Conheça minha dissertação, disponível na internet, e pesquise outros temas. Qualquer dúvida, me escreva. Sugestões de temas? Bem-vindas. Vamos nessa?

 


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