Jornal A Semana

JOVEM, CONTINUE A ESCREVER A HISTÓRIA DA COMUNIDADE

  • Douglas Varela
  • 15/08/2020 09:15
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Imagem: Idosa entrevistada por jovem. Crédito: Andrea Piacquadio, no Pexels.

Zélia Maria Bonamigo
Jornalista e Antropóloga
zeliabonamigo@uol.com.br

Jovem, entendo suas dúvidas. Você me pergunta:

― Vejo como autores da região escrevem história de onde vivem. Eu tenho vontade de escrever sobre a minha comunidade, entrevistar os mais velhos, etc., mas fico pensando sobre o que as outras pessoas vão dizer... E se tiver mais alguém escrevendo? O que eu faço?

Pois bem, caro jovem, o que as outras pessoas vão tagarelar sobre a sua iniciativa não importa, nesse caso. Elas não vivem a sua experiência interior. Você escreverá para atender a um pedido próprio. Se mais alguém estiver com a mesma ideia, ótimo. A comunidade ou um grupo de comunidades poderão, inclusive, organizar um centro histórico local ou regional...

Felizmente, conheço jovens que venceram o “medo” inicial e começaram do zero, sem pretensões, fazendo anotações breves. É com elas que se começa. Tenha um caderno, ou bloco, ou papel de embrulho, ou arquivo de notas do celular, ou, em último caso, serve até a palma da mão, e anote. Mas que tipo de anotação?

Um senhor idoso lhe contou como criava porcos antigamente? Ou como agia com seu cavalo Zaino para resolver as questões de casa, das criações, das plantações? Ouviu sua avó dizer: “Naquele tempo, quando minhas amigas vinham aqui em casa, nós...”? Opa! Fique de ouvidos atentos e registre. Se lhe parecer insignificante, anote assim mesmo. Pandemias mostram que postergar registros desse tipo não é bom...

No entanto, algumas pessoas dizem que já têm anotações, mas não sabem o que fazer com aquilo. Seguem, então, algumas, dicas:

Primeira: Se o tema que você ouviu foi a viagem com o Zaino, faça essas perguntas: “Quando isso aconteceu? Com quem estava? O que fazia? Quais os locais mais visitados? Quais eram as pessoas com quem mais se conversava lá?”.

Segunda: Depois de saber essas respostas, você precisa ler sobre como era a cidade daquele tempo, onde se localizavam as lojas mencionadas, quem eram os lojistas mais destacados na época. Procure livros em bibliotecas. Dissertações de mestrado e doutorado são encontrados na internet, facilmente. Acha difícil? Então vá para a próxima dica.

Terceira: Aprofunde as perguntas da primeira dica, ouça mais sobre o tema e busque pessoas para entrevistar, por telefone, durante a pandemia. Não pode contar com um telefone? Registre as perguntas para você fazer, adiante, mas não deixe de ler sobre o tema.

Quarta: Nunca desista de anotar, perguntar, registrar. Escrever é cidadania, é documentar o que as pessoas experimentam naquele contexto. Frei Juarez de Bona, por exemplo, citado nesta coluna em 17 de junho de 2020, diz como faz: “tenho o cuidado de sempre datar tudo. Quanto às fotos, além de legendar, são guardadas em pastas próprias”.

Lembre-se: o trabalho de organizar anotações lhe ajudarão, inclusive, em sua futura profissão. No mais, quer registre ou não, a história continuará, as pessoas mais velhas morrerão e você terá perdido importantes “arquivos” vivos. Escrever um livro de história é mais do que isso, mas todo livro de história parte de informações básicas, como as das dicas acima citadas. Vamos nessa?

 

 


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